Do
que aprendi ao que desejei ensinar.
No
final do ano de 2012, ao viajar para Brasília, tive a oportunidade de conhecer
um indígena que se identificou como neto de Raoni. Durante a viagem conversamos
muito sobre o seu avô e como sua figura tinha se tornado importante para nossa
sociedade. Quando retornei de minha viagem comentei com meus alunos que havia
conhecido o neto de Raoni e percebi que muitos deles não sabiam de quem se
tratava. Foi então que me dei conta, de que na minha infância e juventude, ouvi
falar muito sobre ele, porém os meus alunos não tinham tido a mesma
oportunidade e aquilo me deixou bastante intrigada. Para mim, conhecer Raoni
era obrigação de qualquer brasileiro.
Conhecer
a cultura indígena e reconhecer a sua importância para todos nós é fundamental
para nossa vida. É preciso saber que esta se refere à história de todos nós. E
que grande parte dos que aqui estão, tem origem indígena e que a mesma tem muita
influência pra nossa cultura, pois muitas das nossas brincadeiras, os alimentos
que comemos, os adereços que usamos, são advindos da cultura indígena. Assim, é
necessário que as crianças tenham acesso a este conhecimento.
Diante disso, fiquei pensando
o que eu poderia fazer para que as crianças tivessem esse conhecimento
acrescentado em suas vidas. Surgiu então,
a ideia de apresentar-lhes esta cultura que outrora parecia não fazer nenhum
sentido para eles. Como já estava encerrando o ano, adiei essa nossa conversa
já que no ano seguinte continuaria com a turma.
No início do ano letivo,
quando estava verificando o material que utilizaria percebi que em um dos
livros didáticos enviados para escolha, continha um fragmento do livro do
escritor Daniel Munduruku. Como todos os dias tenho a prática de fazer leitura
compartilhada, a fim de incentivar e promover a leitura na turma, reservei este
texto para poder utilizá-lo.
Resolvi pesquisar outros
livros do escritor e os adquiri para que pudesse trabalhar em sala de aula.
Dentre os livros escolhidos estão:
MUNDURUKU ,Daniel. Os caçadores de aventuras. São Paulo:
Caramelo, 2006. 32 p.
MUNDURUKU ,Daniel. Sabedoria das água. São Paulo: Global,
2004. 32 p
MUNDURUKU ,Daniel. Contos indígenas brasileiros. São
Paulo: Global, 2004. 64 p.
A primeira coisa que fiz foi
ler o fragmento apresentado no livro didático que conta a história de Daniel
Munduruku e a partir daí retomei a discussão que havia iniciado no ano
anterior. Perguntei se eles conseguiam identificar de quem falava o texto, a
que cultura pertencia, entre outros questionamentos.
Encerrei levantando
hipóteses de como seriam o escritor Daniel Munduruku e Raoni.
Na aula seguinte, iniciei a
leitura do livro “Os caçadores de aventuras”, utilizando o
recurso da antecipação e sempre deixando uma
parte do texto para o dia seguinte. A
leitura
foi realizada em três dias.
Ao encerrar, voltei a
questionar sobre as características físicas do escritor. Em seguida, apresentei
uma pequena biografia com fotos, tanto de Daniel quanto de Raoni. As crianças
ficaram impressionadas, pois a ideia que eles tinham era totalmente diferente. Percebi
a empolgação das mesmas quando me pediram para visitar uma aldeia, pois eles
queriam ver de perto o que estavam aprendendo. Parece estranho, mas a verdade é
que muitos deles nunca sequer viram um índio pessoalmente, pois nunca saíram do
município em que moramos.
Para prosseguir, apresentei
um mapa do Brasil com a população indígena e chamei a atenção para a nossa
região. Em nosso estado temos muitas aldeias, inclusive nos municípios que
fazem fronteira com o nosso. Isso ficou mais evidenciado quando apresentei um
mapa do estado onde consta a localização das mesmas. Elas ficaram surpresas
quando descobriram que bem perto tem uma aldeia e não sabiam disso. Embora
tenha trabalhado no ano anterior com atividades que evidenciavam a cultura
indígena, penso que faltou consolidar o conteúdo apresentando dados de
localização de diferentes etnias e que deixassem evidente a quantidade de
índios em nossa região. O que foi feito dessa vez.
Em outro momento, fizemos um
estudo sobre as palavras contidas no livro que pertencem ao vocabulário
indígena e que não era de conhecimento das crianças. Pesquisamos no dicionário online utilizando a mídia informática
através da tecnologia da internet.
Na sequência das atividades,
aproveitando o dia mundial da água, iniciei a leitura do livro “Sabedoria das
águas”. Com isso, tentei mostrar às crianças que a água é fonte de vida e que
através do livro elas aprenderiam muitas lições e que a natureza guarda muitos
segredos que não conseguimos desvendar.
Na ocasião, realizamos algumas
atividades que ressaltava a importância da água para os seres humanos e
enumeramos alguns cuidados que devemos ter para preservar esse bem tão
precioso.
Como
as crianças estão em processo de alfabetização, utilizei o livro “Contos
indígenas brasileiros” para trabalhar este gênero textual. No ano anterior já
havia realizado atividades com diferentes contos, inclusive de origem indígena,
porém numa abordagem menor. Neste momento, resolvi apresentar o livro e
discutir aspectos referentes tanto ao gênero quanto à cultura, fazendo um
paralelo entre os contos que já conhecem e os que estavam conhecendo.
Durante
a leitura dos contos apresentados no livro fui levantando questionamentos
acerca do que estavam aprendendo. E à medida
que os contos iam sendo lidos pude perceber que as crianças já conseguiam
identificar traços da cultura indígena e com isso compreender a importância da
mesma para nós brasileiros.
O reconhecimento por parte das
crianças do verdadeiro valor da cultura indígena é essencial para a formação da
nossa sociedade. É preciso mostrar que independente da cultura ou da raça, o
respeito deve existir e que devemos aprender que nosso direito termina quando
começa o do outro.
Presidente Médici, 28 de março de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário