quinta-feira, 28 de março de 2013

RELATÓRIO - LEITURA DE OBRAS DE ESCRITORES INDÍGENAS

Do que aprendi ao que desejei ensinar.

            No final do ano de 2012, ao viajar para Brasília, tive a oportunidade de conhecer um indígena que se identificou como neto de Raoni. Durante a viagem conversamos muito sobre o seu avô e como sua figura tinha se tornado importante para nossa sociedade. Quando retornei de minha viagem comentei com meus alunos que havia conhecido o neto de Raoni e percebi que muitos deles não sabiam de quem se tratava. Foi então que me dei conta, de que na minha infância e juventude, ouvi falar muito sobre ele, porém os meus alunos não tinham tido a mesma oportunidade e aquilo me deixou bastante intrigada. Para mim, conhecer Raoni era obrigação de qualquer brasileiro.  
            Conhecer a cultura indígena e reconhecer a sua importância para todos nós é fundamental para nossa vida. É preciso saber que esta se refere à história de todos nós. E que grande parte dos que aqui estão, tem origem indígena e que a mesma tem muita influência pra nossa cultura, pois muitas das nossas brincadeiras, os alimentos que comemos, os adereços que usamos, são advindos da cultura indígena. Assim, é necessário que as crianças tenham acesso a este conhecimento.
Diante disso, fiquei pensando o que eu poderia fazer para que as crianças tivessem esse conhecimento acrescentado em suas vidas.  Surgiu então, a ideia de apresentar-lhes esta cultura que outrora parecia não fazer nenhum sentido para eles. Como já estava encerrando o ano, adiei essa nossa conversa já que no ano seguinte continuaria com a turma.
No início do ano letivo, quando estava verificando o material que utilizaria percebi que em um dos livros didáticos enviados para escolha, continha um fragmento do livro do escritor Daniel Munduruku. Como todos os dias  tenho a prática de fazer leitura compartilhada, a fim de incentivar e promover a leitura na turma, reservei este texto para poder utilizá-lo.
Resolvi pesquisar outros livros do escritor e os adquiri para que pudesse trabalhar em sala de aula. Dentre os livros escolhidos estão:
MUNDURUKU ,Daniel. Os caçadores de aventuras. São Paulo: Caramelo, 2006. 32 p.
MUNDURUKU ,Daniel. Sabedoria das água. São Paulo: Global, 2004. 32 p
MUNDURUKU ,Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004. 64 p.
A primeira coisa que fiz foi ler o fragmento apresentado no livro didático que conta a história de Daniel Munduruku e a partir daí retomei a discussão que havia iniciado no ano anterior. Perguntei se eles conseguiam identificar de quem falava o texto, a que cultura pertencia, entre outros questionamentos.
Encerrei levantando hipóteses de como seriam o escritor Daniel Munduruku e Raoni.
Na aula seguinte, iniciei a leitura do livro  “Os  caçadores  de  aventuras”,  utilizando  o
recurso da antecipação e sempre deixando uma parte do texto para o dia seguinte.  A leitura
foi realizada em três dias.
Ao encerrar, voltei a questionar sobre as características físicas do escritor. Em seguida, apresentei uma pequena biografia com fotos, tanto de Daniel quanto de Raoni. As crianças ficaram impressionadas, pois a ideia que eles tinham era totalmente diferente. Percebi a empolgação das mesmas quando me pediram para visitar uma aldeia, pois eles queriam ver de perto o que estavam aprendendo. Parece estranho, mas a verdade é que muitos deles nunca sequer viram um índio pessoalmente, pois nunca saíram do município em que moramos.
Para prosseguir, apresentei um mapa do Brasil com a população indígena e chamei a atenção para a nossa região. Em nosso estado temos muitas aldeias, inclusive nos municípios que fazem fronteira com o nosso. Isso ficou mais evidenciado quando apresentei um mapa do estado onde consta a localização das mesmas. Elas ficaram surpresas quando descobriram que bem perto tem uma aldeia e não sabiam disso. Embora tenha trabalhado no ano anterior com atividades que evidenciavam a cultura indígena, penso que faltou consolidar o conteúdo apresentando dados de localização de diferentes etnias e que deixassem evidente a quantidade de índios em nossa região. O que foi feito dessa vez.
Em outro momento, fizemos um estudo sobre as palavras contidas no livro que pertencem ao vocabulário indígena e que não era de conhecimento das crianças. Pesquisamos no dicionário online utilizando a mídia informática através da tecnologia da internet.
Na sequência das atividades, aproveitando o dia mundial da água, iniciei a leitura do livro “Sabedoria das águas”. Com isso, tentei mostrar às crianças que a água é fonte de vida e que através do livro elas aprenderiam muitas lições e que a natureza guarda muitos segredos que não conseguimos desvendar.
Na ocasião, realizamos algumas atividades que ressaltava a importância da água para os seres humanos e enumeramos alguns cuidados que devemos ter para preservar esse bem tão precioso.
            Como as crianças estão em processo de alfabetização, utilizei o livro “Contos indígenas brasileiros” para trabalhar este gênero textual. No ano anterior já havia realizado atividades com diferentes contos, inclusive de origem indígena, porém numa abordagem menor. Neste momento, resolvi apresentar o livro e discutir aspectos referentes tanto ao gênero quanto à cultura, fazendo um paralelo entre os contos que já conhecem e os que estavam conhecendo.
            Durante a leitura dos  contos   apresentados  no livro fui levantando questionamentos
acerca do que estavam aprendendo. E à medida que os contos iam sendo lidos pude perceber que as crianças já conseguiam identificar traços da cultura indígena e com isso compreender a importância da mesma para nós brasileiros.
            O reconhecimento por parte das crianças do verdadeiro valor da cultura indígena é essencial para a formação da nossa sociedade. É preciso mostrar que independente da cultura ou da raça, o respeito deve existir e que devemos aprender que nosso direito termina quando começa o do outro.



Presidente Médici, 28 de março de 2013.